quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Cristina Ribas

Dois Mares, 2008

Quantificar o processo artístico é o que a artista Cristina Ribas pretende realizar através de sua intervenção no fluxo de trabalho informal. Sua obra propõe uma equivalência de trabalho e remuneração entre uma artista e mulheres que se ocupam da distribuição de folhetos publicitários no centro das cidades do Rio e de Niterói. Cálculos matemáticos de horas de serviço prestado, custo de cada diária de trabalho e pró-labore artístico para esta exposição ditam a quantidade de travessias entre as duas cidades que Cristina deverá fazer.
A ação consistiu na troca de folhetos comuns por folhetos carimbados no verso, no decorrer do percurso do centro do Rio ao centro de Niterói. A artista, que vem recolhendo este material há cerca de dois anos, quer infiltrar seu universo poético no labor rotineiro e mecânico dessas mulheres que se tornam invisíveis no caos urbano. Com o desejo (utópico) de livrá-las (mais cedo) dessa função, sua proposta torna-se uma metáfora da possibilidade do artista como trabalhador ativo em uma sociedade.
Como remunerar o processo artístico? Quanto vale o tempo do artista e sua produção imaterial? Estas são questões que a artista deseja levantar através de práticas relacionais com essas personagens urbanas que encenam diariamente proximidade física e distância social.
Dois mares baseia-se em trocas e trânsitos entre pessoas que se situam entre o anonimato e uma multiplicidade de papéis em diferentes círculos, momentos e situações. Atenta a tais atividades singulares e plurais e procurando ler a cidade no tempo-espaço dessas mulheres, a artista busca atingir, por indução, significados mais abrangentes entre\dessas duas cidades.

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