quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Vicente de Mello

Estudo para espelho de Claude, 2008

Imagine o poder de atração que exerce uma bela paisagem. Com o intuito de eternizar essa sensação, uma mesma paisagem foi registrada por pintores e fotógrafos ao longo do tempo. Como se houvesse um ponto ideal para apreender uma paisagem ou uma conexão perceptiva entre os diferentes autores – que perpassou os anos –, a mesma perspectiva é retratada e transformada em imagem.
Em Estudo para espelho de Claude, Vicente de Mello apresenta quatro representações da Ilha de Boa Viagem, desde uma pintura do século 19, passando por postais dos anos 1940 e 1960, até uma fotografia de sua autoria, datada de fins do século 20. Numa referência direta ao dispositivo óptico muito usado por pintores paisagistas nos séculos 18 e 19 para distorcer a imagem real, que se torna algo similar a um desenho – facilitando a realização de uma pintura em termos técnicos –, o artista evidencia essa busca pelo ângulo perfeito da paisagem, como um intento de capturar e absorver seu poder de atração.
Imagine um editor de imagem pré-fotográfico. O espelho de Claude transformava a imagem que estávamos vendo em imagem que deveríamos ver, ou seja: a composição ideal de tons para uma pintura. Em formato côncavo, o objeto foi amplamente utilizado por artistas e viajantes para contemplar, reconfigurar e transcrever uma paisagem. Ao virar as costas para a cena natural, o observador visualiza apenas seu reflexo distorcido e comprimido, o que possibilita enxergá-la em sua totalidade estética pictórica. Estudo para espelho de Claude consegue resgatar o que os pintores paisagistas acreditavam ser possível apenas com o espelho\dispositivo: sugar a nostalgia da paisagem.

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